Escola deve ensinar pessoas a aprender ao longo da vida, afirma especialista coreano em evento da Folha de S. Paulo

Seminário patrocinado pelo SENAI trouxe ao Brasil Youngsuk “YS” Chi para debater o emprego do futuro. Segundo ele, ensino de memorização não funciona mais no contexto da Indústria 4.0

Os brasileiros precisam se unir em favor de uma agenda educacional que qualifique os profissionais do futuro, afirmou o coreano Youngsuk “YS” Chi, presidente da Elsevier, maior editora científica do mundo, durante o evento O Futuro do Emprego e o Emprego do Futuro, realizado nesta sexta-feira (30) pelo jornal Folha de S.Paulo com patrocínio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

Segundo ele, todos os modelos de sucesso no mundo tiveram como base o investimento contínuo em uma educação que estimula as pessoas “aprenderem a aprender”. Um sistema educacional baseado em memorização, testes e a repetição de conteúdo, afirmou, não funciona mais no cenário da chamada Indústria 4.0, quando a inteligência artificial deve substituir o ser humano em funções repetitivas. “Devemos ter um sistema educacional que seja tolerante e pronto para ensinar as crianças como serem curiosas e como aprender”, disse Chi, que também é diretor de assuntos corporativos do Relx Group.

Ele recomendou aos jovens que estão ingressando em um novo mercado de trabalho a buscar “uma paixão” e construir as habilidades necessárias para praticá-la em vez de se prenderem a empresas ou marcas. “Você não deve estar preso a uma companhia, mas a uma paixão. Não colecione marcas em seu currículo, colecione habilidades”, aconselhou.

Chi também argumentou que é um erro pensar que a tecnologia é apenas para os jovens. “Um dos erros que cometemos é achar que tecnologia é apenas para jovens. Todos precisam ter treinamento em tecnologia, ou as pessoas acima dos 50 anos ficarão cada vez mais excluídas”. O executivo contou que ele mesmo, aos 58 anos, faz nove cursos neste momento.  

Na avaliação dele, é possível ao Brasil superar suas dificuldades econômicas e sociais por meio de um movimento coletivo em favor de um novo modelo educacional. “Avanços são possíveis quando diferentes setores trabalham juntos. Apesar do cenário social e político estar polarizado, nós não podemos trabalhar sozinhos”, defendeu. “O Brasil deve usar a tecnologia para alavancar seus recursos únicos e transformar crises em oportunidades.”

EMPREGOS - Na abertura do evento, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, avaliou que as novas tecnologias digitais poderão extinguir algumas profissões, mas novas serão criadas. “Quando falamos em mudança tecnológica, certamente vamos extinguir empregos em algumas áreas, mas vamos criar mais oportunidades em outras áreas, gerar novos negócios rentáveis facilitados pela tecnologia, pela disseminação do conhecimento”, afirmou.

Segundo ele, as instituições do Sistema Indústria já se empenham em formar o novo profissional. “O SENAI, a CNI, o SESI e o IEL têm trabalhado muito para formar pessoas em novas tecnologias, em novas profissões, em dar a elas condição de entender as mudanças que estão acontecendo e, por meio delas, buscar suas realizações”, completou.

Durante o seminário, o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, também defendeu uma revolução educacional, necessária para alavancar o desenvolvimento tecnológico e social do Brasil. “Temos de ter uma enorme discussão sobre o nosso sistema educacional e abertura com relação ao novo; um debate aberto, profundo e que dialogue com o futuro. Não vai ser uma escola fordista, apegada ao passado que vai resolver nosso problema”, argumentou.

Segundo ele, a escola precisa investir em análise, criticidade e no desenvolvimento de novas competências emocionais. “Há mais necessidade de colaboração, trabalho em equipe e criatividade nas empresas atuais. Temos de pensar as novas competências e habilidades que dialogam com o século 21”, afirmou, durante o painel “Desafios do emprego no Brasil com a Indústria 4.0”, do qual também participaram André Portela Fernandes de Souza, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Regina Madalozzo, professora do Insper.

Para o diretor-geral do SENAI, é preciso investir, tanto por meio de cursos técnicos quanto no ensino superior, no STEAM – sigla em inglês que significa ciências, engenharia, tecnologia, artes e matemática. No Brasil, apenas 16% dos egressos das universidades são formados em cursos dessas áreas, enquanto nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) esse percentual fica entre 25% e 30%.  

Lucchesi, que foi relator das Diretrizes Nacionais Curriculares do ensino médio no Conselho Nacional de Educação (CNE), também defendeu a nova lei para essa etapa escolar. “A reforma cria um sistema de educação que dialoga com a vida de cada um, são os itinerários formativos”, afirmou. “Se a educação é o pilar da sociedade do conhecimento, temos de fazer uma transformação no nosso sistema educacional”.

O seminário reuniu ainda palestrantes que discutiram os temas “O mundo do trabalho nos próximos 30 anos”; “Alternativas para o desemprego e mão de obra subutilizada” e “O futuro do empreendedorismo no Brasil”.

Fonte: Portal da Indústria